quarta-feira, 20 de junho de 2012

Aguapé

Bioindicadora de Poluição Fluvial


O crescimento urbano tem acarretado alguns problemas ambientais, como a poluição dos rios. Essa poluição está relacionada aos efluentes urbanos, às atividades agropecuárias e às atividades industriais que são despejadas erroneamente, sem uma prática sustentável. Exemplo desse fato, é a bacia do Rio Cachoeira no sul da Bahia, rio este que frequentemente encontra-se carregado de aguapé, Eichhornia crassipes (Mart.) Solms., por todo seu curso d'água (fig. 1).

 
Fig. 1. Aguapé, Eichhornia crassipes (Mart.) Solms., família Potenderiaceae.

Aguapé é um tipo de uma planta aquática, flutuante, que é comumente encontrada em rios de fluxo lento ou lagoas. Sua reprodução é realizada por meio vegetativo, produzem também frutos e semestres em abundância. Possui diversas funções que ajudam na “despoluição” de ambientes de águas eutrofizadas, como a capacidade de absorver e acumular poluentes, "filtrando" a água; além de evitar a incidência da luz direta do sol sobre a lâmina, impedindo que a água fique extremamente esverdeada.

Por não se conhecer corretamente a sua biologia e seus múltiplos benefícios para a comunidade aquática, os iguapés são considerados equivocadamente, na maioria das vezes, uma praga por prefeitos e autoridades brasileiras e de outros países. Quando a planta se prolifera em rios ou lagoas de grande extensão seu manejo torna-se mais difícil. Em corpos d’água eutrofizados, onde há um baixo número de animais como peixes e mamíferos aquáticos herbívoros a planta reproduz-se com muita facilidade, ocupando assim toda a área do rio ou lago, por exemplo, o que impede a proliferação de algas responsáveis pela oxigenação da água.

Uma purificação eficiente só se consegue em lagoas ou banhados bem dimensionados e manejados. Mas como a planta pode ser sistematicamente controlada? Em Itabuna, no sul da Bahia, a Comissão Técnica de Gestão Ambiental do Centro de Pesquisas do Cacau da CEPLAC reconheceu neste ano bases cientificas de um projeto apresentado pelo engenheiro agrônomo Agamenon Farias, e apoiado pela Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento), de revitalização do rio local, o Rio Cachoeira (fig. 2), e o processo de produção de adubo orgânico a partir dos aguapés, conhecidos por baronesas na região. Outra medida utilizada em algumas cidades é fazer barreiras flutuantes para manter essas plantas afastadas de pontos sensíveis, como turbinas.

Fig. 2. Proliferação de aguapé no rio Cachoeira, município de Itabuna, BA.

Sendo assim, o aguapé pode ser considerado um indicativo de poluição, ao mesmo tempo em que representa um instrumento para a purificação de águas. Se a sua proliferação atinge níveis muito elevados a ponto de ser considerado um problema para o município, a solução não está na simples eliminação ou não introdução, está no manejo.

LARISSA SILVA LIMA
THIÁRA SOUSA PAIM

Referências


Aguapé: planta da Amazônia é arma poderosa contra poluição. Disponível em: <http://www.sunnet.com.br/home/Noticias/Aguape-planta-da-Amazonia-e-arma-poderosa-contra-poluicao.html>.

FONTES, I. B. M.; ARAUJO, Q. R.; SEVERO, M. I. G.; OLIVEIRA, A. H. Avaliação dos Micropoluentes Inorgânicos da Estação de Tratamento do Esgoto de Ilhéus (Bahia). Londrina: Geografia, 2009. vol. 18. nº 1.


JOSÉ LUTZENBERGER. Em Defesa do Aguapé. Porto Alegre: Poder. L&PM Editores Ltda.,1985. Disponível em: <http://www.fgaia.org.br/texts/t-aguape.html>.


RODRIGUES, L.; LOURENÇO, N.; MACHADO, C. R.; JORGE, M. R.; JACINTO, J. J. Modelos espaciais de pressão sobre os recursos naturais: O exemplo da Mata Atlântica no Sul da Bahia, Brasil. Barcarena - Portugal: Centro de Investigação da Universidade Atlântica, Antiga Fábrica da Pólvora de Barcarena. Disponível em: <http://repositorio-cientifico.uatlantica.pt/bitstream/10884/358/1/2004_Modelos_espaciais_press%C3%A3o.pdf>.


WERNER E. ZULAUF. O meio ambiente e o futuro. São Paulo: Estudos Avançados, 2000. vol.14. nº 39.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Áreas de Restinga

É necessário preservar?!


A cobertura florestal do sul da Bahia é extremamente variada, em virtude de uma grande diferenciação de solos, clima, relevo e existência de grandes rios que também se constituem em importantes barreiras geográficas para diversos grupos biológicos. Nas faixas litorâneas são encontrados os manguezais e as restingas, os primeiros associados às desembocaduras dos rios na faixa de influência das marés, e as últimas cobrindo os depósitos arenosos decorrentes de transgressões marinhas do período Terciário.
Segundo a Resolução CONAMA Nº07 de 23 de Julho de 1996, “entende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sobre influência marinha e fluvio-marinha. Essas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em grande área de diversidade ecológica sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo do que do clima”.
Distribuição da Restinga no litoral brasileiro
As restingas estão distribuídas ao longo do litoral brasileiro, numa extensão total de quase 5.000 Km, ocorrendo em 79% de sua costa. As principais formações estão na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Bahia são encontradas tanto florestas sobre restinga cobrindo grandes extensões no extremo sul do Estado, como grandes campos arenosos, com elevada riqueza, apresentando espécies com distribuição disjunta entre litoral, campos rupestres e cerrados, que ocorrem principalmente na região de Belmonte, próximos à foz do rio Jequitinhonha.
A preservação deste bioma se faz necessário, pois o mesmo apresenta grande importância ecológica. Muitas espécies de fauna no Brasil são restritas às restingas, havendo inclusive grande dependência, a exemplo de espécies de aves que encontram nesses ambientes local de pouso e alimentação. 

Formicivora littoralis (formigueiro-do-litoral). Ave
endêmica de áreas de restingas corre risco de extinção.
A vegetação de restinga evita a erosão eólica, com a fixação do substrato arenoso, evitando bloqueio de estradas, habitações, além de diminuir o assoreamento de lagunas, brejos e canais, proporciona também a permeabilidade do solo, fazendo com que a chuva abasteça os lençóis freáticos que mais tarde abastecerão as comunidades com água potável, além de manutenção dos níveis de água dos corpos d’água. Com isso, a retirada dessa vegetação propicia a formação de dunas móveis e lixiviação de nutrientes.
Visando a importância econômica que esse ambiente pode oferecer, se faz necessário a preservação do banco genético existente nas restingas já que são poucos os estudos feitos com o potencial do seu uso.
Na região sul da Bahia, mais especificamente nas cidades de Una e Canavieiras o estudos demonstram a existência de fragmentos ainda significativos da vegetação natural, a exemplo das restingas e manguezais. Contudo, a pressão de uso sobre essas regiões litorâneas tem levado à riscos de degradação devido a expansão inconsequente de loteamentos e empreendimentos turísticos. As áreas originais de restinga sofrem ocupações por atividades agrícolas, especialmente de pastagens e cultura do coqueiro e isso vem mostrando que da planície costeira em especial da cidade de Canavieiras, as áreas de restinga e brejos estão sendo convertidas em áreas de pastagens, enquanto os manguezais seguem ameaçados pelo avanço das áreas urbanas.
Dessa forma, mesmo considerando a existência de fragmentos, ainda significativos, na atual vegetação natural do litoral desses municípios, é bastante recomendada a adoção de medidas mais eficazes de conservação, principalmente através da implantação de áreas naturais de proteção integral que incluíssem esses ecossistemas poucos priorizados quando se fala em unidades de conservação do estado da Bahia.

Por: Disraely Santos e Lorena Kruschewsky