quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mangues, berçário natural a caminho do desaparecimento em Ilhéus

 Uma questão socioambiental...
Na região de Ilhéus os manguezais encontram-se bastante ameaçados e aparentemente as pessoas não tem noção do grande prejuízo que é a destruição dos mangues tanto para elas quanto para o ecossistema.
Os manguezais são ecossistemas caracterizados por serem uma transição entre os ambientes aquáticos e terrestres e ainda ser o desembocadouro de águas marinhas e doces, assim os mangues se tornam um ecossistema único por ser o encontro do rio com o mar. Seu solo lodoso é um ambiente úmido riquíssimo em nutrientes provenientes da grande quantidade de matéria orgânica em decomposição ali presente. Essa quantidade de matéria orgânica é oriunda da decomposição de folhas, flores e frutos. Aliados a essa alta taxa de decomposição há ainda a mistura das águas salgadas e doces, seguidos da sedimentação, formando um substrato potencializado e rico. Desta forma, o solo lodoso, característico dos mangues, torna-se um habitat para uma elevada diversidades de organismos.
A biodiversidade suportada pelos manguezais abrange desde pequenos mamíferos, crustáceos, aves, até microorganismos comos bactérias e fungos. Os crustáceos são os mais abundantes dentre os habitantes dos mangues, sendo este seu berçário natural. Além disso estudos em mangues mostram que estes abrigam uma diversidade ímpar de microorganismos com alto potencial biotecnológico, ou seja, produtores de compostos de interesses industriais, tais como o farmacêutico. 
O homem é o principal culpado pelo desaparecimento deste ecossistema. Ilhéus é um bom exemplo dessa ação prejudicial à natureza.

A população vem crescendo de forma acelerada e muitas cidades não possuem uma infraestrutura adequada para acompanhar esse crescimento. O que acontece nesta situação é a baixa qualidade de vida, que pode ter como consequência um alto índice de desemprego, gerando uma procura para conseguir se estabelecer em um local que tenha um baixo custo de vivência. Isto ocorre sem levar em conta ou sem ter noção do mal que pode causar ao ambiente se este for invadido e aterrado como ocorre nos manguezais. Em Ilhéus,  com o auge da lavoura cacaueira houve um alto crescimento populacional devido às altas taxas de natalidade.Após a crise da lavoura, houve migração de várias famílias do campo para a cidade. Por muitos locais apresentarem um relevo acidentado a solução achada pela grande maioria foi aterrar o mangue como aconteceu principalmente nos Bairros São  Domingos e Teotônio Vilela. Abaixo foto da Rua da Felicidade no bairro Teotônio Vilela:


O avanço das casas nos manguezais continua e é possível ver na rodovia Ilhéus-Itabuna, antes do Bairro Teotônio Vilela, pequenas casas que já se estabeleceram e alojaram-se aterrando “mangue adentro”, chamada de  rua do Mosquito, na qual os moradores aterraram o mangue por uma extensa faixa estreita para construir suas moradias.
Os manguezais que são invadidos para diversas ações antrópicas, ocasionam a perda de espécies de fauna e flora sendo os remanescentes ameaçados com a forte pressão exercida pela presença de atividades humanas em seu ecossistema. A recuperação deste ambiente encontra uma dificuldade muito grande, uma vez que há uma alta taxa de poluentes neles presente devido ao lançamento de dejetos diretamente no ambiente, com a falta de um saneamento básico adequado. O lixo também é outro problema. O caminhão que o coleta muitas vezes deixa a desejar no seu sistema, causando o acúmulo do lixo do bairro e o consequente deposito nas margens do manguezal e quando o nivel de água sobe... nem é preciso delimitar aqui o destino deste.
Além dos prejuízos causados somente pela moradia, há a extração de recursos locais como madeira, ostras,  lambretas e caranguejos escassos como o caranguejo-uça (Ucides cordatus) para o comércio e subsistência.
Os mangues que estão sendo invadidos, apresentando como principal causa  a moradia, estão sendo bastante degradados devido ao lançamento de lixo e esgoto sem nenhum tratamento.
A falta de conscientização dos moradores é um ponto agravante para sua degradação, pois a maioria não sabe a importância deste ecossistema para conservação da biodiversidade e que é uma área de conservação ambiental. A ocupação dessas áreas pelo homem além de não trazer benefícios à natureza, não traz benefício a ele próprio, uma vez que vivendo nesses ambientes sem condições de higiene e saneamento basico necessários, muitas vezes a população invasora sofre de várias doenças causadas por viverem em condições subumanas.
Assim o mangue tem deixado de apresentar suas funções principais de berçário de espécies, fonte de alimentos para diversos organismos, e retentor de sedimentos e nutrientes para ser o quintal e a fossa de várias casas, comércio e tudo que conseguir  tomar espaço em suas margens, poluindo um ecossistema tão rico e prejudicando uma diversidade de organismos.
Os orgãos Municipais, Estaduais e Federais ou qualquer orgão responsável por estes problemas fecham seus olhos, se é que eles os têm, pois em muitos casos esses bairros contruídos em áreas proibidas já estão reconhecidos pelas empresas que prestam serviços públicos e pela própia prefeitura. De certa forma não há uma punição para quem acaba contribuindo para degradação deste ambiente. Mas o que fazer com estas tantas pessoas agora que a situação está tão avançada? Como impedir que os bairros cresçam e degradem mais um ambiente tão rico se os próprios Órgãos responsáveis acabam achando isso normal? Como sempre o mal não é cortado da raiz, as políticas públicas não funcionam e a exclusão social, neste caso, continua fazendo parte deste cenário, não favorecendo para a conservação da biodiversidade.


Por Amanda Cerqueira e Geane Costa

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